Olá pessoal,
vai ter um debate hoje no aud. do CCJ às 19:00 "A guerra no Líbano: A
situação dos civis" com o professor Adriano Duarte, Sidney Monhoz e Patricia
Santos.
Recebi um texto do Atílio Borón (sociólogo argentino) sobre o mesmo tema,
que segue abaixo:
Abraços...
Kelem
Palestina: Um silêncio repugnante
por Atilio Boron
Por vezes o silêncio é ensurdecedor. Nestes dias o mutismo dos que se dizem
defensores da democracia liberal, do mundo livre e da economia de mercado
ressoa com estrépito. O regime genocida de Israel, herdeiro sinistro do seu
verdugo nazi, está a perpetrar um crime inqualificável contra o povo
palestino. Quando Bush caracterizou o governo do Hamas como "terrorista" a
União Europeia avalizou essa infâmia, Tel Aviv sentiu-se respaldada e abriu
as portas do inferno. O bombardeamento indiscriminado de populações civis
indefesas, os atentados contra autoridades democraticamente eleitas da
Palestina e a destruição de tudo o que encontraram na sua passagem foi a
palavras de ordem do governo israelense. Os gabinetes dos principais
ministérios foram destruídos, ministros, parlamentares e altos funcionários
da Autoridade Palestina encarcerados, o abastecimento de electricidade para
a metade do milhão e meio de habitantes que se apinham em Gaza foi
inutilizado pela aviação israelense, paralisando escolas, hospitais,
oficinas e lojas, deixando os lares sem esse recurso vital. Em mais uns
poucos dias já não haverá água potável porque as estações de bombagem
deixarão de funcionar. Caminhos intransitáveis, campos abandonados, a frágil
infraestrutura de Gaza está a ser metodicamente arrasada perante a
indiferença do mundo. Noite após noite a aviação israelense sobrevoa esse
pequeno território lançando bombas de estrondo, e das outras.
A ordem do valente e honrado primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, foi
terminante: "Que ninguém durma em Gaza". O pretexto desta barbárie: a
captura pela resistência palestina do cabo do exército israelense Gilad
Shalit — captura, não sequestro, uma vez que Shalit era membro de um
exército invasor e foi capturado em combate pelos seus inimigos. Perante
isto, Tel Aviv negou-se a negociar com os seus captores um intercâmbio de
prisioneiros políticos — há umas 900 crianças e adolescentes palestinos
presos em Israel, e mais de 5000 adultos, todos qualificados como
terroristas. Os cárceres de Israel, como os de Guantánamo, não recolhem
seres humanos.
Quando o presidente iraniano exortou a "apagar Israel do mapa" o mundo foi
comovido por uma onda de justificada indignação. Mas quando o governo de
Israel leva à prática essa ameaça e apaga literalmente do mapa a Palestina,
os líderes das "nações democráticas" e os seus apaniguados — os Vargas
Llosa, Montaner, Zoe Valdéz e companhia — guardam um repugnante silêncio.
Sua duplicidade moral é ilimitada. Podem justificar o seu silêncio qualquer
coisa: inclusive um genocídio como que está a praticar Israel na Palestina.
Naturalmente, não duvidarão nem um instante em qualificar de "terroristas"
as imperdoáveis palavras do presidente iraniano. Mas quando o terrorismo de
Estado não é declarado num discurso insensato e sim sistematicamente
praticado por um peão dos Estados Unidos como Israel, sua consciência moral
padece de um súbito adormecimento.
O propósito do governo israelense é bem claro: apoderar-se definitivamente
de Gaza. Sitia-os, deixa-os sem água, pão, luz, trabalho. Priva-os de toda
esperança e extermina-os pouco a pouco, com a cumplicidade dos grandes
defensores da democracia e da liberdade, preocupados como estão pela ameaça
que os foguetes nortecoreanos representam para a civilização.
09/Julho