11 de set. de 2008

[UFSC] Comite Catarinense Contra a Criminalização dos Movimentos Sociais


Na penúltima quarta feira (dia 3) estive na reunião do Comite Catarinense Contra a Criminalização dos Movimentos Sociais e passo os seguintes informes:

- O CCCCMS está organizando desde já um evento para se debater a criminalização dos movimentos sociais para os dias 26 e 27 de novembro, o título pensado para o evento é: "Brasil: A ditadura acabou ?"

- O Blog do comitê é ccccms.blogspot.com

- Está marcada para o dia 17, 8:30, no SINTUFSC, uma reunião que reuna o ME, sindicatos, mov. sociais e etc. para começar uma campanha e uma luta unificada em defesa do que é público (já sairam camisetas da campanha).

- Em dezembro acontecerá um Tribunal Popular com o título: O Estado Brasileiro no Banco dos Réus, do dia 4 ao dia 6. Na Sala dos Estudantes da Faculdade de Direito (USP), no Largo São Francisco em São Paulo-SP. Mais informações: http://midiaindependente.org/pt/blue/2008/09/427602..shtml

Esses são os principais informes... Na última quarta teve outra reunião...

Abraços

Davi Perez

[Textos] Chile, 1973 - 35 anos do golpe

O exemplo do extinto presidente chileno Salvador Allende perdurará, reafirmou o líder cubano Fidel Castro, ao cumprir-se um século do nascimento de quem "combateu como um leão até o último alento" defendendo o Palácio da Moeda em 1973.

"Os revolucionários que resistiram ali à investida fascista contaram coisas fabulosas sobre os momentos finais", anotou Fidel Castro em suas mais recentes reflexões, intituladas "Salvador Allende, um exemplo que perdura", publicadas na sexta-feira 27/06 pelo diário Granma.

"As versões nem sempre coincidiam, porque lutavam em diferentes pontos do Palácio. Ademais, alguns de seus mais próximos colaboradores morreram, ou foram assassinados depois do duro e desigual combate", recordou.

Explicou que a diferença dos testemunhos consistia em que uns afirmavam que os últimos disparos os fez contra si mesmo para não cair prisioneiro, e outros que sua morte sobreveio por fogo inimigo.

Não há contradição alguma entre ambas formas de cumprir o dever, remarcou o líder da Revolução cubana, ao rememorar que "em nossas guerras de independência houve mais de um exemplo de combatentes ilustres que, quando já não havia defesa possível, se privaram da vida antes de cair prisioneiros".

Prensa Latina transmite a seguir a íntegra do que escreveu Fidel:

Salvador Allende, um exemplo que perdura


Nasceu faz cem anos em Valparaíso, ao sul do Chile, em 26 de junho de 1908. Seu pai, de classe média, advogado e notário, militava no Partido Radical chileno. Quando eu nasci, Allende tinha 18 anos. Realiza seus estudos médios num liceu da cidade natal.

Em seus anos de estudante pré-universitário, um velho anarquista italiano, Juan Demarchi, o pôs em contato com os livros de Marx.

Gradua-se como aluno excelente. Gosta de esporte e o pratica. Ingressa como voluntário no servicio militar, no Regimento Couraçados de Viña del Mar. Solicita transferência para o Regimento Lanceiros de Tacna, um enclave chileno no norte seco e semidesértico, posteriormente devolvido ao Peru. Egressa como oficial da reserva do Exército. Fá-lo já como homem de idéias socialistas e marxistas. Não se tratava de um jovem mole e sem caráter. Era como si adivinhara que um dia combateria até a morte defendendo as convicções que já começavam a se gestar em sua mente.

Decide estudar a nobre carreira da Medicina na Universidade do Chile. Organiza um grupo de companheiros que se reúnem periodicamente para ler e discutir o marxismo. Funda o Grupo Avanço em 1929. É eleito vice-presidente da Federação de Estudantes do Chile em 1930 e participa ativamente da luta contra a ditadura de Carlos Ibáñez.

Havia-se desatado já a grande depressão econômica nos Estados Unidos com a crise da Bolsa de Valores que explodiu em 1929. Cuba se adentrava na luta contra a tirania machadista. Mella havía sido assassinado. Os operários e os estudantes cubanos enfrentavam a repressão. Os comunistas, com Martínez Villena à frente, desencadeavam a greve geral. "Faz falta uma carga para matar velhacos, para acabar a obra das revoluções..." —havia proclamado em vibrante poema. Guiteras, de profunda raiz antiimperialista, que intenta derrocar a tirania com as armas. Cai Machado, que não pode resistir ao ímpeto da nação, e surge uma revolução que Estados Unidos em poucos meses, com luvas de pelica e mão de ferro, aplasta, e seu domínio absoluto perdura até 1959.

Durante esse período, Salvador Allende, num país onde a dominação imperialista se exercia brutalmente sobre seus trabalhadores, sua cultura e suas riquezas naturais, leva a cabo uma luta conseqüente que nunca o apartou de sua inatacável conduta revolucionaria.

Em 1933 se gradua médico. Participa na fundação do Partido Socialista do Chile. É já dirigente em 1935 da Associação Médica Chilena. Sofre prisão durante quase meio ano. Estimula o esforço para criar a Frente Popular, e o elegem subsecretário geral do Partido Socialista em 1936.

Em setembro de 1939 assume a Pasta da Saúde no governo da Frente Popular. Publica um livro seu sobre medicina social. Organiza a primeira Exposição da Habitação. Participa em 1941 da reunião anual da Associação Médica Americana nos Estados Unidos. Ascende em 1942 a Secretário Geral do Partido Socialista do Chile. Vota no Senado, em 1947, contra a Lei de Defesa Permanente da Democracia, conhecida como "Lei Maldita" por seu caráter repressivo. Ascende em 1949 a Presidente do Colégio Médico.

Em 1952, a Frente do Povo o postula para Presidente. Tinha então 44 anos. Perde. Apresenta no Senado um projeto de lei para a nacionalização do cobre. Viaja a França, Itália, União Soviética e República Popular da China em 1954.

Quatro anos depois, em 1958, é proclamado candidato à Presidência da República pela Frente de Ação Popular, constituída pela União Socialista Popular, o Partido Socialista do Chile e o Partido Comunista. Perde a eleição para o conservador Jorge Alessandri.

Assiste em 1959 à posse como Presidente da Venezuela de Rómulo Betancourt, considerado até então uma figura revolucionaria de esquerda.

Viaja esse mesmo ano a Havana e se encontra com o Che e comigo. Dá respaldo em 1960 aos mineiros do carvão, que paralisam seu trabalho por mais de três meses.

Denuncia junto com o Che em 1961 o caráter demagógico da Aliança para o Progresso na reunião da OEA que teve lugar em Punta del Este, Uruguay.

Designado de novo candidato à Presidência, é derrotado em 1964 por Eduardo Frei Montalva, democrata-cristão que contou com todos os recursos das classes dominantes e que, segundo dados revelados em documentos desclassificados do Senado dos Estados Unidos, recebeu dinheiro da CIA para apoiar sua campanha. Em seu governo, o imperialismo tratou de desenhar o que se deu a chamar a "Revolução em Liberdade", como resposta ideológica à Revolução Cubana. O que engendrou foram os fundamentos da tirania fascista. Nessa eleição, Allende obtém, entretanto, mais de um milhão de votos.

Encabeça em 1966 a delegação que assiste à Conferência Tricontinental de Havana. Visita a União Soviética no 50º Aniversário da Revolução de Outubro. No ano seguinte, 1968, visita a República Democrática da Coréia, a República Democrática do Vietnã, onde tem a satisfação de conhecer e conversar com o extraordinário dirigente desse país Ho Chi Minh. Inclui nesse mesmo recorrido a Camboja e Laos, em plena efervescência revolucionária.

Após a morte do Che, acompanha pessoalmente até o Tahití a três cubanos da guerrilla na Bolívia, que sobreviveram à queda do Guerrilheiro Heróico e se encontravam já em território chileno.

A Unidade Popular, coalizão política integrada por comunistas, socialistas, radicais, MAPU, PADENA e Ação Popular Independente, o proclama seu candidato em 22 de janeiro de 1970, e triunfa em 4 de setembro nas eleições desse ano.

É um exemplo verdadeiramente clássico da luta para estabelecer o socialismo pela via pacífica.

O governo dos Estados Unidos, presidido por Richard Nixon, depois do triunfo eleitoral entra de imediato em ação. O Comandante em Chefe do Exército chileno general René Schneider é vítima de um atentado em 22 de outubro e falece três dias depois porque não se somava à demanda imperialista de um golpe de Estado. Fracassa o intento de impedir a chegada da Unidade Popular ao governo.

Allende assume legalmente com toda a dignidade o cargo de Presidente do Chile em 3 de novembro de 1970. Começa a partir do governo sua heróica batalha pelas mudanças, enfrentando o fascismo. Tinha já 62 anos de idade. Coube-me a honra de haver compartido com ele 14 anos de luta antiimperialista desde o triunfo da Revolução Cubana.

Nas eleições municipais de março de 1971, a Unidade Popular obtém a maioria absoluta dos votos, com 50,86%. Em 11 de julho, o presidente Allende promulga a Lei de Nacionalização do Cobre, una idéia que havia proposto ao Senado 19 anos antes. Foi aprovada no Congresso por unanimidade. Ninguém se atrevia a objetá-la.

Em 1972 denuncia à Assembléia Geral das Nações Unidas a agressão internacional de que seu país é vítima. É ovacionado de pé durante longos minutos. Visita nesse mesmo ano a União Soviética, México, Colômbia e Cuba.

Em 1973, ao realizar-se as eleições parlamentares de março, a Unidade Popular obtém 45% dos votos e aumenta sua representação parlamentar.

Não podem prosperar as medidas promovidas pelos ianques nas duas Câmaras para destituir o Presidente.

O imperialismo e a direita agudizam uma luta sem quartel contra o governo da Unidade Popular e desencadeiam o terrorismo no país.

Escrevi-lhe seis cartas confidenciais a mão, com letra pequeninha e uma caneta de ponta fina entre os anos 1971 e 1973, nas quais lhe abordava temas de interesse com a maior discrição.

Em 21 de maio de 1971 lhe dizia:

"...Estamos maravilhados de teu extraordinário esforço e tuas energias sem limites para sustentar e consolidar o triunfo.

"Daqui se pode apreciar que opoder popular ganh terreno apesar de sua ifícil ecomplexa missão.

"As eleições de 4 de Abril constituíram uma esplêndida e alentadora vitória.

"Foram fundamentais teu valor e decisão, tua energia mental e física para levar adiante o processo revolucionário.

"Seguramente lhes esperam grandes e variadas dificuldades a enfrentar em condições que não são precisamente ideais, mas uma política justa, apoiada nas massas e aplicada com decisão não pode ser vencida..."

Em 11 de setembro de 1971, lhe escrevi:

"O portador viaja para tratar contigo dos detalhes da visita.

"Inicialmente, considerando um possível vôo direto em avião da Cubana, analisamos a conveniência de aterrizar em Arica e iniciar o trajeto pelo norte. Surgem logo duas coisas novas: interesse expressado a ti por Velazco Alvarado de um possível contato nessa minha viajem; possibilidade de contar com um avião soviético IL-62 de maior raio. Este último permite, se se quer, chegar em vôo direto a Santiago.

"Vai um esquema de trajeto e atividades para que tu acrescentes, suprimas e introduzas as modificações que estimes pertinente.

"Procurei pensar exclusivamente no que possa ser de interesse político sem preocupar-me muito o ritmo ou a intensidade do trabalho, mas fica tudo submetido em absoluto a teus critérios e considerações.

"Desfrutamos muito os êxitos extraordinários de tua viajem a Equador, Colômbia e Peru. Quando teremos em Cuba a oportunidade de emular com equatorianos, colombianos e peruanos no enorme carinho e no calor com que te receberam?"

Naquela viajem, cujo esquema transmiti ao presidente Allende, salvei milagrosamente a vida. Percorri dezenas de quilômetros ante uma multidão enorme, situada ao longo do caminho. A Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos organizou três ações para assegurar meu assassinato durante essa viajem. Numa entrevista de imprensa anunciada com anterioridade, havia uma câmara fornecida por uma emissora televisiva da Venezuela equipada com armas automáticas, manejada por mercenários cubanos que com documentos desse país haviam ingressado no Chile. O valor lhes falhou aos que só tinham que apertar o gatilho durante o longo tempo que durou a entrevista e as câmaras me enfocaram. Não queriam correr o risco de morrer. Haviam-me perseguido, ademais, por todo o Chile, onde não me volveram a ter tão próximo e vulnerável. Só pude conhecer os detalhes da covarde ação anos mais tarde. Os serviços especiais dos Estados Unidos haviam chegado mais longe do que podíamos imaginar.

Em 4 de fevereiro de 1972 escrevi a Salvador:

"A delegação militar foi recebida com o maior esmero por todos aqui. As Forças Armadas Revolucionárias dedicaram praticamente todo o seu tempo durante esses dias para atendê-la. Os encontros foram amistosos e humanos. O programa intenso e variado. Minha impressão é que a viajem foi positiva e útil, que existe a possibilidade e é conveniente seguir desenvolvendo estes intercâmbios.

"Com Ariel falei sobre a idéia de tua viajem. Compreendo perfeitamente que o trabalho intenso e o tom da contenda política nas últimas semanas não te tenham permitido considerá-la para a data aproximada em que a mencionamos. É indubitável que não havíamos levado em conta estas eventualidades. De minha parte, aquele dia, véspera de meu regresso, quando jantávamos já de madrugada em tua casa, diante da falta de tempo e da premência das horas, me tranquilizava pensar que relativamente rápido nos voltaríamos a encontrar em Cuba onde íamos dispor a possibilidade de conversar extensamente. Tenho, não obstante, a esperança de que possas considerar a visita para antes de maio. Menciono este mês, porque a mais tardar, desde mediados do mesmo, tenho que realizar a viajem, já impostergável, a Argélia, Guinéa, Bulgária, outros países e a URSS. Esta ampla visita me levará considerável tempo.

"Agradeço-te muito as impressões que me comunicas sobre a situação. Aqui, cada dia mais familiarizados, interessados e afetados emotivamente todos com o processo chileno, seguimos com grande atenção as notícias que chegam daí. Agora podemos compreender melhor o calor e a paixão que deve ter suscitado a revolução cubana nos primeiros tempos. Poderia dizer-se que estamos vivendo nossa própria experiência invertida.

"Em tua carta posso apreciar a magnífica disposição de ânimo, serenidade e valor com que estás disposto a enfrentar as dificuldades. E isso é fundamental em qualquer processo revolucionário, especialmente quando se desenvolve nas condições sumamente complexas e difíceis do Chile. Eu regressei com uma extraordinária impressão da qualidade moral, cultural e humana do Povo Chileno e de sua notável vocação patriótica e revolucionária. A ti te ha correspondido o singular privilégio de ser seu condutor neste momento decisivo da história do Chile e da América, como culminação de toda uma vida de luta, como disseste no estádio, consagrada à causa da revolução e do socialismo. Nenhum obstáculo pode ser invencível. Alguém disse que numa revolução se marcha adiante com 'audacia, audacia e mais audacia'. Eu estou convencido da profunda verdade que este axioma encerra."
Escrevi-lhe de novo ao presidente Allende em 6 de setembro de 1972:

"Com Beatriz te mandei mensagem sobre distintos tópicos. Depois que ela partiu e por motivo das notícias que chegaram semana pasada, decidimos enviar o companheiro Osmany para ratificar-te nossa disposição de colaborar em qualquer sentido, e de tua parte tú podes comunicar-nos através dele tua apreciação da situação e tuas idéias com relação à viajem projetada a este e outros países. O pretexto da viajem de Osmany será inspecionar a Embaixada cubana, ainda que não se lhe dará publicidade alguma. Queremos que sua estadia aí seja muito breve e discreta.

"Os pontos colocados por ti através de Beatriz já se estão cumprindo...

"Ainda que compreendemos as atuais dificuldades do processo chileno, temos a confiança de que vocês encontrarão o modo de vencê-las.

"Podes contar inteiramente com nossa cooperação. Recebe uma saudação fraternal e revolucionária de todos nós."

Em 30 de junho de 1973 enviamos um convite oficial ao presidente Salvador Allende e aos partidos da Unidade Popular para a comemoração do 20º Aniversário do ataque ao Quartel Moncada.

Em carta a parte, lhe digo:

"Salvador:

"O anterior é o convite oficial, formal, para a comemoração do 20º Aniversário. O formidável seria que tu pudesses dar um pulo a Cuba para essa data. Podes imaginar-te o que significaria isso de alegria, satisfação e honra para os cubanos. Sei que isso todavia depende mais que nada de teus trabalhos e da situação aí. Deixamos-lhe por tanto a tua consideração.

"Entretanto estamos sob o impacto da grande vitória revolucionária do dia 29 e do teu brilhante papel pessoal nos acontecimentos. É natural que muitas dificuldades e obstáculos subsistirão mas estou seguro de que esta primeira prova exitosa lhes dará grande alento e consolidará a confiança do povo. Internacionalmente se deu grande destaque aos acontecimentos e se aprecia como um grande triunfo.

"Atuando como o fizeste no 29, a revolução chilena sairá vitoriosa de qualquer prova por dura que seja.

Reitero-te que os cubanos estamos a teu lado e que podes contar com teus fiéis amigos de sempre."

Em 29 de julho de 1973 lhe envio a última carta:

"Querido Salvador:

"Com o pretexto de discutir contigo questões referentes à reunião de países não alinhados, Carlos e Piñeiro realizam uma viajem aí. O objetivo real é informar-se contigo sobre a situação e oferecer-te como sempre nossa disposição de cooperar diante das dificuldades e perigos que obstaculizam e ameaçam o processo. A estadia deles será muito breve porque têm aqui muitas obrigações pendentes e, não sem sacrifício de seus trabalhos, decidimos que fizessem a viajem.

"Vejo que estão agora na delicada questão do diálogo com a D.C. em meio de acontecimentos graves como o brutal assassinato de teu ajudante de ordens naval e a nova greve dos donos de caminhões. Imagino por isso a grande tensão existente e teus desejos de ganhar tempo, melhorar a correlação de forças para o caso de que estoure a luta e, se possível, achar um leito que permita seguir adiante com o processo revolucionário sem contenda civil, ao mesmo tempo que salvar tua responsabilidade histórica pelo que possa ocorrer. Estes são propósitos louváveis. Mas caso a outra parte, cujas intenções reais não estamos em condições de valorar desde aqui, se empenhasse nuna política pérfida e irresponsável exigindo um preço impossível de pagar pela Unidade Popular e a Revolução, o qual é, inclusive, bastante provável, não esqueças por um segundo a formidável força da classe operária chilena e o respaldo enérgico que te ha brindado em todos os momentos difíceis; ela pode, a teu chamado diante da Revolução em perigo, paralisar os golpistas, manter la adesão dos vacilantes, impor suas condições e decidir de uma vez, se é preciso, o destino do Chile. O inimigo deve saber que está alertada e pronta para entrar em ação. Sua força e sua combatividade podem inclinar a balança na capital a teu favor ainda quando outras circunstâncias sejam desfavoráveis.

"Tua decisão de defender o processo com firmeza e com honra até o preço de tua própria vida, que todos te sabem capaz de cumprir, arrastarão a teu lado todas as forças capazes de combater e todos os homens e mulheres dignos do Chile. Teu valor, tua serenidade e tua audácia nesta hora histórica de tua pátria e, sobretudo, tua chefia firme, decidida e heroicamente exercida, constituem a chave da situação.

"Faça saber a Carlos e a Manuel em que podemos cooperar teus leais amigos cubanos.

"Te reitero o carinho e a ilimitada confiança do nosso povo."

Isto o escrevi mês e meio antes do golpe. Os emissários eram Carlos Rafael Rodríguez e Manuel Piñeiro.

Pinochet havia conversado com Carlos Rafael. Havia-lhe simulado uma lealdade e firmeza similares às do general Carlos Prats, Comandante em Chefe do Exército durante parte do governo da Unidade Popular, um militar digno ao que a oligarquia e o imperialismo puseram em total crise, que o obrigou a renunciar ao comando, e foi mais tarde assassinado na Argentina pelos esbirros da DINA, depois do golpe fascista de 1973.

Eu desconfiava de Pinochet desde que li os livros de geopolítica que me presenteou durante minha visita ao Chile e observei seu estilo, suas declarações e os métodos que como Chefe do Exército aplicava quando as provocações da direita obrigavam o presidente Allende a decretar o estado de sitio em Santiago do Chile. Recordava o que advertiu Marx no 18 Brumário.

Muitos chefes militares do exército nas regiões e seus estados maiores queriam conversar comigo em qualquer parte que chegava, e mostraram notável interesse pelos temas da nossa guerra de libertação e as experiências da Crise de Outubro de 1962. As reuniões duravam horas nas madrugadas, que era o único tempo livre para mim. Eu acedia para ajudar Allende, inculcando-lhes a idéia de que o socialismo não era inimigo dos institutos armados. Pinochet, como chefe militar, não foi uma exceção. Allende considerava úteis estes encontros.

Em 11 de setembro de 1973 morre heroicamente defendendo o Palácio da Moeda. Combateu como um leão até o último alento.

Os revolucionários que resistiram alí à investida fascista contaram coisas fabulosas sobre os momentos finais. As versões nem sempre coincidiam, porque lutavam em diferentes pontos do Palácio. Ademais, alguns de seus mais próximos colaboradores morreram, ou foram assassinados depois do duro e desigual combate.

A diferença dos testemunhos consistia em que uns afirmavam que os últimos disparos os fez contra si mesmo para não cair prisioneiro, e outros que sua morte sobreveio por fogo inimigo. O Palácio ardia atacado por tanques e aviões para consumar um golpe que consideravam trâmite fácil e sem resistência. Não há contradição alguma entre ambas formas de cumprir o dever. Em nossas guerras da independência houve mais de um exemplo de combatentes ilustres que, quando já não havia defesa possível, se privaram da vida antes de cair prisioneiros.

Há muito que dizer ainda sobre o que estivemos dispostos a fazer por Allende, alguns o escreveram. Não é o objetivo destas linhas.

Hoje se cumpre um século de seu nascimento. Seu exemplo perdurará.

Fidel Castro Ruz, 26 de Junho de 2008.

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