15 de dez. de 2006

[CALCS] Relatório do Encontro Regional Sul Sociologia e Filosofia no E.M.

Relatório do Encontro Regional Sul Sociologia e Filosofia no E.M.

Realizou-se nos dias 4 e 5 de Dezembro na PUC-RS, o 1º Encontro Regional Sul de Sociologia e Filosofia no Ensino Médio, que faz parte de uma série de encontros regionais sobre o tema que a Federação Nacional dos Sociólogos vem realizando pelo Brasil. O tema é: Educação para a cidadania: desafios das ciências sociais no EM 2007. O objetivo principal do evento era discutir a conjuntura e os problemas enfrentados para a implementação dessa disciplina já no início do próximo ano.
Participaram do encontro professores da UFRGS, PUC-RS, UEL e UFPR, além de estudantes e professores de sociologia no ensino médio dos colégios do RS. Mais uma vez, nenhum professor da UFSC pôde participar, o que certamente empobreceu um pouco a discussão regional. O CALCS enviou dois alunos para participar (com o auxílio da coordenação do curso) e, na medida do possível, contribuiu com os debates e se comprometeu a divulgar os resultados do encontro para a comunidade acadêmica da UFSC.
O grande mérito do encontro foi fugir um pouco do ambiente acadêmico que normalmente marca esse tipo de evento, trazendo muitos professores que já lecionam Sociologia no EM em escolas públicas. A participação destes foi fundamental, pois conhecem bem a realidade do tema, e o relato de suas experiências e dificuldades mostrou o tamanho do desafio a ser enfrentado a partir de agora.
Os dados que foram apresentados demonstram que a região Sul é uma das que está num nível um pouco mais avançado para a implementação dessa disciplina, pois em SC ela já é obrigatória desde 1998, e no RS e PR, apesar da não-obrigatoriedade, muitas escolas adotaram-na nos últimos anos. No entanto, essa é apenas a primeira etapa. A outra, muito mais complexa, diz respeito às condições em que será implementada a obrigatoriedade da Sociologia, pois pelo que pôde-se perceber, há uma carência grande de professores licenciados em ciências sociais, sendo que a grande maioria dos professores que atualmente trabalham a disciplina são formados em outras áreas do conhecimento. No RS, por exemplo, do total de docentes de Sociologia no EM, apenas 15 % é licenciado em ciências sociais, e apenas 40% na área de humanas, ou seja, os outros 60% vêm da Física, Matemática, Educação, etc. A alternativa imediata para esse período de transição é a realização de cursos de capacitação para qualificar esse profissional e garantir-lhe um mínimo de conhecimento da área.
Essa, no entanto é uma medida emergencial, que serve apenas para amenizar a situação. A resolução desse problema só pode se dar a longo prazo, através de uma atenção maior à área de licenciaturas, que atualmente é pouco valorizada nas universidades devido a uma hierarquização acadêmica existente entre a pesquisa científica e a formação de professores. É preciso que se pense um pouco menos no currículo Lattes (onde a licenciatura pouco vale) e mais no compromisso da instituição em retornar conhecimento à sociedade, através também de docentes qualificados, e não apenas de banners. A criação de um “campo” para o ensino de sociologia talvez venha contribuir para essa valorização da licenciatura, pois criará uma demanda por profissionais com essa formação e certamente exigirá maior atenção das universidades. A proliferação de cursos de sociologia de baixa qualidade em universidades privadas é o contraponto da criação desse “campo”.
Outra preocupação do encontro foi com a criação de uma identidade da disciplina Sociologia para o EM. Nesse sentido, foi argumentado que as Orientações Curriculares Nacionais (OCN) dessa nova lei valorizam a identidade, a história e a discussão metodológica da Sociologia, tentando articular recortes temáticos, conceituais e teóricos, retomando algumas idéias críticas com relação ao seu ensino. Também forma realizados Grupos de Trabalho para debater as finalidades, objetivos, temas, metodologia e bibliografia da Sociologia no EM. A sistematização dessas propostas ficou a cargo da organização do evento, que a partir delas irá elaborar um documento indicativo que será encaminhado para as instituições de ensino e suas mantenedoras. Esse documento não visa constituir-se numa espécie de currículo da disciplina, mas apenas um perfil que servirá na orientação das escolas e dos professores, para criar essa identidade da disciplina.
O encaminhamento final do encontro teve como proposta a realização da sua 2ª edição no ano que vem na UFSC, com data a ser confirmada, mas possivelmente no final de Março, coincidindo com o começo do ano letivo na UFSC e nas escolas de Ensino Médio. A organização do encontro ficou responsável por contatar o Laboratório de Ensino de Filosofia e Sociologia (LEFIS) para confirmar a realização do evento.
Rafaela Amaral
Eduardo Perondi