Manifestação do Coordenador da Comissão Guarani Nhemonguetá sobre a matéria publicada na revista Veja nº 2163, de 05 de maio de 2010, intitulada “a farra da antropologia oportunista”.
Um abuso dos formadores de opinião...
É lamentável, após tantos anos de luta para conquista e respeito ao direito indígena, me deparar com uma reportagem tendenciosa, preconceituosa, como a matéria publica na revista Veja nº 2163, de 05 de maio de 2010, intitulada “a farra da antropologia oportunista”.
Os jornalistas Srs. Leonardo Coutinho e Igor Paulin e a jornalista Sra. Julia de Medeiros ao reportarem a situação da etnia guarani, principalmente na região da grande Florianópolis, cometeram um erro básico na construção de uma reportagem investigativa – verificar a idoneidade e a legitimidade da fonte de informações.
O Sr. Milton Moreira (foto na página 158/159) não representa as comunidades Guarani de Santa Catarina e por opção vive fora das comunidades indígenas, estabelecendo uma forte relação com o não indígena, empresário local, que tentou de várias formas deslocar a comunidade do Morro dos Cavalos no município de Palhoça para atender interesses econômicos próprios.
É uma pena que os autores desta reportagem, em passagem por nossa região não se interessaram em conhecer os verdadeiros representantes da cultura guarani, e prestaram este desserviço a todo trabalho desenvolvido pela Comissão Nhemonguetá, que reúne representantes de todas as aldeias do litoral de Santa Catarina, sempre apoiados e acompanhados nas suas decisões e reivindicações pelo Ministério Público de Santa Catarina, que confere a veracidade dos fatos, a origem das solicitações e o fundamento jurídico das solicitações, sejam elas fundiárias, sociais, antropológicas ou de bens e serviços.
Nós não precisamos provar quem somos. A própria história, construída pelos não indígenas, identifica o povo guarani como etnia tradicional desta terra. O povo guarani nunca desrespeitou a propriedade alheia; ao contrário serem foram usurpados de suas terras, impedidos de desenvolver seu modo de vida e cultura.
Esta situação se arrasta há 500 anos, desde a invasão portuguesa. Isso ocorre por ainda encontrarmos na sociedade brasileira pessoas com o mesmo “pensamento” que os autores desta matéria. Utilizam meios de comunicação de abrangência nacional, como esta revista, sem dar oportunidade aos seus leitores de construção de um pensamento crítico, devido a parcialidade da mesma, muitas vezes incorrendo com a verdade.
Então me pergunto... A quem interessa todo este movimento? O porquê das informações não terem sido verificadas?
Hoje, o povo guarani com uma população de mais de 50 mil pessoas ocupa menos que 0,05% das terras destinada aos povos indígenas no Brasil, e quase sempre em locais improdutivos e não adequados ao nosso modo de vida... Nossos antepassados chorariam se nos vissem em tal situação... Será que choraremos daqui a alguns anos, vendo nossos filhos e netos derrotados e aprisionados em pequenos pedaços de terra, vivendo como em guetos, segregados e espoliados de seus direitos, mesmo sendo os representantes legítimos da família tradicional do Brasil, que vivem nestas terras há muito mais que quinhentos anos?!!
Desafio esta revista e os autores desta reportagem a estarem juntos as nossas aldeias e conhecerem nossos jovens e anciãos para repensarem “a origem paraguaia” de nossa Nação Guarani.
Hyral Moreira
Cacique da T.I. M’Biguaçu
Presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Litoral Sul
Coordenador da Comissão Nemonguetá
Graduando em Direito na Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALIPOR Thiago Arruda Ribeiro dos Santos