Esse debate esteve presente no Encontro Regional dos Estudantes de Ciências Sociais em POA!
Repasso um excelente video [ http://www.mst.org.br/mst/ pagina.php?cd=5415 | http://www.mst.org.br/mst/ imagens/video_syngenta.wmv ] e um texto de apresentação com o histórico do Estágio Interdisciplinar de Vivência. Para quem tiver interesse em saber mais e compreender melhor a realidade nacional...
ou continuem assistindo a rede globo e lendo a revista veja!
Nos últimos anos vários estudantes do curso de ciências sociais, aqui da ufsc, têm participado dessa experiência, tanto na organização quanto na vivência! Neste último ano, 2008, participamos em seis pessoas.
Teve um discussão na Semana de Ciências Sociais - o EIV e os Movimentos Sociais - que tocou em alguns pontos como o papel do cientista social e do estudante e sua formação... Foi um princípio de debate bem interessante com contribuições de colegas estagiários e de vários estudantes de sociais... e da Marisol (Coordenadora do Curso de Ciências Sociais/UFSC)...
E neste ano estamos organizando o próximo em 2009... Já teve um primeiro encontro em Florianópolis e estão organizando o próximo estágio algumas pessoas que já participaram, tanto do curso de sociais quanto de outros cursos, o MUP - Movimento por uma Universidade Popular e outras entidades e organizações.
O Video no final "Nem um minuto de silêncio! Fora Syngenta do Brasil" é o grito que dá nome à produção realizada pela Brigada de Audiovisual da Via Campesina. O documentário relata o assassinato de Valmir Mota de Oliveira, o Keno, em 21 de outubro de 2007, por seguranças da empresa NF, contratada pela Syngenta.
Alguns estagiários estiveram neste janeiro último nesta área no PR onde o Camarada Keno foi assassinado por uma milícia armada atacou os companheiros do MST quando estes estavam acampados em área próxima a Syngenta.
Essas experiências de estágio de vivência acontecem em outros cursos, por exemplo o caso da medicina com um estágio urbano... Interessante pensarmos nisto... Segue abaixo o texto sobre o EIV.
A partir dos anos 70, os Estudantes de Agronomia começaram a sentir a necessidade de desenvolver esforços para entender criticamente o modelo de desenvolvimento agropecuário que se estava implantando no país, buscando analisar suas conseqüências e, a partir daí atuar para melhorar a qualidade do ensino de Agronomia, aproximando-o mais da realidade, demandas e necessidades da maioria dos trabalhadores e produtores rurais, situados em condição marginal no contexto daquele modelo.
Ao longo das discussões travadas, foi reconhecendo-se como ponto central a superar, o distanciamento Universidade/Sociedade e, em especial, o caráter, acadêmico, tecnicista e segmentado do conhecimento produzido na Instituição Universitária. Nesse contexto, surgiram, na Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil - FEAB, alguns projetos pioneiros que buscavam aproximar o estudante universitário da realidade econômica, social, política e cultural do campo - os Estágios de Vivência.
A primeira experiência de Estágio de Vivência foi realizada em 1989, Dourados (MS), em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), agregando estudantes de agronomia da região Centro-Oeste do país.
Desde então, os Estágios de Vivência se multiplicaram por todo o país. Assumiram caráter local ou regional, e, em sua maioria, interdisciplinar e sendo construídos não só pela FEAB, mas por várias outras Executivas e Federações de Curso, Diretórios Centrais dos Estudantes e Centros e Diretórios Acadêmicos. Teve sua importância reconhecida em várias universidades, chegando a ser institucionalizado em algumas, como é o caso da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde o Estágio de Vivência constitui uma disciplina dentro do currículo de Agronomia.
O Estágio de Vivência representa hoje um importante processo de reflexão e elaboração crítica dos objetivos para a Universidade, numa valorização do diálogo com a Sociedade, repensando as condições de intervenção sobre a realidade. Representa também privilegiar um segmento social de produção que, na prática, condensa graves problemas sociais e técnicos na área da agricultura, da questão agrária e da luta pela terra.
A aquisição, a construção do conhecimento e a formação dos futuros profissionais nas Universidades se resumem a transposição de técnicas e teorias baseadas em produções científicas de bases teóricas produtivistas e positivistas. Isto aliado a um processo de desenvolvimento agropecuário mecanicista e capitalista voltado aos interesses de uma burguesia agrária e de grandes multinacionais relacionadas ao desenvolvimento do campo.
Assim, os estudantes tornam-se objetos de um processo educacional, cujo objetivo é reproduzir os conceitos e práticas adquiridos em suas universidades. Limitando-se a visões simplistas de compreensão da realidade e de como se inserir no mercado de trabalho que se escasseiam com o passar do tempo.
Para tanto, houve a necessidade da construção de Estágio de Vivência, o qual se destacou como um instrumento na busca da formação estudantil. Esse modo de formação se insere num contexto amplo de relacionamento entre a Universidade e a sociedade, o qual vem se mostrando historicamente frágil, pontual e fragmentado. A universidade oferece muitas propostas de formação profissional que não prestam a devida atenção as demandas e carências dos grupos sociais, especialmente aqueles que se situam em posição de exclusão. Nesse sentido o estágio passa a ser um mecanismo pedagógico importante para auxiliar formação profissional e a tomada de consciência do estudante sobre a diversidade e complexidade das condições sociais de vida e trabalho vigentes na sociedade, sobretudo, as do meio rural.
A partir da vivência da realidade cotidiana dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e buscando entendê-la, os estagiários e estagiárias são chamados a analisar o contexto da história recente e dos Movimentos Sociais Populares, tendo como moldura o processo de modernização da agricultura brasileira.
O Estágio Interdisciplinar de Vivência - EIV promove um intercâmbio entre as várias áreas do conhecimento acadêmico com os Movimentos Sociais Populares, seus conhecimentos e histórico de lutas. É por isso que o Estágio tem fundamentalmente um caráter Interdisciplinar, não apenas no sentido de abranger vários cursos, mas também de ver a comunidade integralizada nos seus diferentes elementos sociais constituintes, partindo da questão da terra (agricultura, organização e produção) a saúde, transporte, educação, cultura, relações de gênero, enfim todos os aspectos relativos á vida em sociedade
Dentro dessa perspectiva, portanto, a proposta do Estágio de Vivência não se corporifica apenas nos poucos dias em que se dá a presença do estudante em campo, nos Assentamentos e Comunidades Rurais. Vai muito além, constituindo-se em proposta na qual @ estudante é incentivad@ para:
• aprender, observar, conhecer, participar;
• considerar como pano de fundo a complexidade da realidade, e a diversidade de ângulos pelos quais esta realidade pode ser observada, evitando assim proceder a reduções simplificadoras;
• valorizar a troca de informações e experiências, em plano coletivo e interdisciplinar;
• confrontar seus conhecimentos teóricos com aquela realidade, de modo a elaborar uma prática sobre a qual terá oportunidade constante de refletir, à luz da vivência, de modo a construir novos conhecimentos, articulando conhecimentos teóricos e empíricos, numa proposta crítica e transformadora da produção do conhecimento, que deverá ser posta em discussão na universidade, quando de seu retorno.
Durante o processo de construção dos Estágios Interdisciplinares de Vivência muito se discutiu e se acumulou no sentido do caráter deste estágio, construindo assim os princípios do estágio de vivência tendo-se então:
- princípio da não intervenção: a proposta do estágio não é de intervenção técnica, mas sim para que @ estagiári@ vivencie a realidade agrária e camponesa, conhecendo a organização na qual a família camponesa esta inserida, percebendo também as contradições existentes na sociedade, que são de difícil percepção dentro da Universidade.
- princípio da interdisciplinariedade: não apenas no sentido de abranger vários cursos, mas também de ver a comunidade integralizada nos seus diferentes elementos sociais constituintes, partindo da questão da terra (agricultura, organização e produção) a saúde, transporte, educação, cultura, relações de gênero, enfim todos os aspectos relativos á vida em sociedade
- princípio da parceria: o Estágio Interdisciplinar de Vivência de ser em conjunto com os Movimentos Sociais Camponeses, de forma que @s estagiári@s possam conhecer e compreender melhor a organização destes, bem como, vivenciar a mesma. Auxiliando na compreensão de que a transformação da Universidade é um processo que somente ocorrerá concomitantemente à transformação da sociedade.