24 de mar. de 2007

[Textos] Ciência Insurgente - Boletim da Oficina de Ciências Sociais

CIÊNCIA INSURGENTE

Boletim da Oficina de Ciências Sociais – Nº 03 / Março de 2007 /

Sede: Bloco O / ICHF – Campus do Gragoatá – UFF Reuniões: Sextas às 18:00 Sala 528

Editorial

A Oficina de Ciências Sociais é uma organização de estudantes que tem como objetivo capacitar o estudante de ciências sociais para fazer pesquisa e desenvolver projetos de extensão e ensino. A OCS tem como proposta uma articulação política /acadêmica que procura capacitar o estudante para uma possível inserção profissional, porém sem subordinar a pesquisa e o ensino a lógica das empresas. Para isso propomos a utilização da ciência como instrumento de intervenção social dentro de um projeto político de oposição à lógica da formação universitária orientada apenas para atender aos interesses impostos por empresários, políticos e seus órgãos de classe. A Oficina é um espaço onde se busca uma profissionalização voltada para analisar, organizar e planejar projetos que contemplem em primeiro lugar os interesses das classes trabalhadoras, dos grupos historicamente dominados.

Atualmente a OCS encontra-se com dois projetos de estudo e pesquisa: 1) sobre o mundo do trabalho e suas transformações e 2) outro sobre Educação Popular. Além disso, temos um trabalho de intervenção social na Vila Ipiranga em parceria com OPINA de geração de renda e
preservação ambiental. Convidamos os estudantes de ciências sociais e de outros cursos a estarem participando das atividades da Oficina de Ciências Sociais. As reuniões são abertas e divulgadas por e-mail e no mural da OCS no térreo do Bloco N.

A Ilusão do Assim Chamado Capitalismo Solidário


Nos últimos anos vem sendo revocada a idéia de que é possível um "Capitalismo Solidário" através da constituição de organizações como cooperativas de produção, comercialização e compra.
Esta perspectiva não é nova. Os socialistas do século XIX já debatiam a respeito de proposições como organizações de cooperativas como organizações proto-socialistas que poderiam derrubar o capitalismo. [1]

Autores e militantes como Fourier e Owen defendiam está idéia, logo refutada por roudhon, Marx e Bakunin. Para estes autores a Constituição de cooperativas não derrubaria o sistema ou Modo de produção capitalista. Para a superação (Marxismo) ou destruição (Bakuninismo) do capitalismo é necessária a organização da classe proletária para tomada do Estado (Marx) ou formação do Poder Popular (Bakunin).

No inicio do século XX o debate retornou no interior do Partido Social Democrata Alemão, entre Rosa Luxemburgo e Bernstein [2]. O segundo defendia a organização de cooperativas de consumo como modo de baratear os produtos para os trabalhadores. Havia então um "consenso" de que as cooperativas de produção não poderiam competir com as empresas capitalistas e caíram em uma forte contradição interna. No contexto da Revolução de Outubro Lênin vai defender a constituição de cooperativas autogestionários dos trabalhadores como um modo de educação para a futura sociedade comunista.
Hoje, volta-se ao debate sobre a possibilidade de um "Capitalismo Solidário" através da constituição de cooperativas. Na verdade essa defesa não passa de uma ilusão, promovida Principalmente por setores, como governo, mídia corporativa e empresários, que querem
manter o atual estado de coisas. A constituição de cooperativas não poderá mudar a condição de existência dos trabalhadores e muitas vezes a cooperativa é um elo da cadeia de produção onde o trabalho é bastante precarizado. A proposta de uma Economia Solidária pode servir como instrumento de educação, mas não como de libertação de classe.
O chamado "Capitalismo Solidário" mantém sua dominação, a expropriação do trabalhador. Na Europa, EUA e Japão o trabalhador não deixa de ser explorador, apesar de sua melhor condição de existência. Isolado de um projeto político que tenha como norte a emancipação, idéias como de economia solidária, que pode gerar renda para desempregados, donas de casas e subempregados, não passará de experiências isoladas que remediam uma situação local de
miserabilidade.


CAMPANHA FORA CURSOS PAGOS DA UFF!!!

Grupo de Estudo e Trabalho: Reestruturação Produtiva e Movimento Sindical-Popular


O GET Mundo do Trabalho vem se reunindo de 15 em 15 dias as sextas feiras. Além de discussões coletivas sobre formação do capitalismo, a questão do trabalho, as modificações organizacionais das empresas e o movimento sindical popular, estamos elaborando projetos de pesquisa individuais. O GET tem como objetivo investigar as mudanças ocorridas no sistema social capitalista e como isso vem afetando a organização política dos trabalhadores e seus espaços de sociabilidade.

Assim, além das discussões internas dos grupos, estaremos lançando em maio de 2007, uma revista eletrônica com artigos dos estudantes, como um primeiro resultado das discussões iniciadas em 2006. No segundo semestre, estaremos organizando e planejando a implementação de um curso de extensão que tem com objetivo a formação política dos trabalhadores e estudantes.

Calendário de Reuniões: Sextas-feiras: dias 23/03, 09/04, 20/04, 06/05, 18/05, 01/06, 15/06 e 06/07, às 18:00 na Sala 528 do Bloco O.


Grupo de Estudo de Educação Popular

Em outubro do ano de 2000 a Oficina de Ciências Sociais formou sua primeira turma de alfabetização na comunidade do Morro do 94 na rua Lara Vilela. Essa experiência fez parte do projeto de educação popular que em conjunto com o projeto da TV comunitária constituia o Núcleo de Intervenção Social da OCS. Se somaram a essa primeira turma uma outra formada na mesma comunidade no ano de 2002 e outras duas no Morro da Mineira no Catumbi em 2001 e 2002/2003. Todos os processos de alfabetização tiveram como base um método amadurecido pelo grupo que compunha a oficina cuja diretriz principal eram as idéias de Paulo Freire.

A partir dessas experiências, em agosto de 2005, após a retomada das atividades da oficina, aconteceu uma capacitação para alfabetizadores baseado naquele método. Esse momento funcionou como um catalisador, agregando pessoas, em sua maioria estudantes do curso de
Ciências Sociais da UFF, comprometidas com a questão da educação e de seu potencial de transformação social. A capacitação e o método foram pensados a partir da preocupação em estabelecer uma relação entre educador/educando na qual o conhecimento anterior de ambos fosse levado em conta ao invés de considerar o "aluno" como uma folha em branco, pronta para ser preenchida pelo conhecimento do professor. Nessa perspectiva, a apreensão de aptidões como ler, escrever e fazer contas vêm compor a leitura que o indivíduo já fazia do mundo, tornado-se instrumentos para a conquista de uma maior autonomia e conscientização política. Essa capacitação funcionou como um encontro de estudantes ansiosos em pensar e praticar a educação popular como forma de transformação do sistema. Desse encontro formou-se um núcleo que começou o Grupo de Estudos de Educação Popular.

O GEEP, se propõe a discutir ensino, pesquisa e extensão em termos de socialização do conhecimento no âmbito da interação Universidade/Sociedade, tendo como foco principal a questão educacional e suas implicações políticas e sociais. Além disso, seguindo as idéias que direcionaram a criação da oficina e que estão presentes em seus projetos ainda hoje, o GEEP tem a perspectiva de se constituir como um espaço no qual os estudantes possam "unir o exercício prático do conhecimento adquirido na universidade com a intervenção social" [3] .

Por entendermos que o papel da educação popular na história dos movimentos por mudanças sociais é importante, iniciamos com a leitura de textos que nos ajudaram a entender o processo de construção do conceito de popular, as opções políticas feitas pelas elites dominantes que fizeram da educação o que é hoje e principalmente entender a que modelo de educação, de relação social e de país nos contrapomos. Dessa forma tentamos continuamente pensar como podemos contribuir para a constituição de processos transformadores nesse âmbito. Atualmente o grupo está trabalhando no sentido de mapear metodologias de ensino e se articular com alguns
movimentos sociais para conquistar um espaço de atuação. Gostaríamos, portanto de chamar todos e todas à participação. O GEEP está aberto, em construção e necessitando de mais pedreiros para ajudar a levantar essa casa.

Quem estiver interessado em aparecer em alguma reunião é só mandar um e-mail para ocs@..., já que as datas são tiradas semanalmente.



[1] Segundo Marx, Modo de Produção Capitalista, uma etapa histórica, caracterizada pela expropriação do trabalho pelo capital, ou seja, pela constituição da propriedade privada e assalariamento da força de trabalho dos homens.

[2] A posição de Bernstein dentro do PSDA era da evolução da sociedade capitalista para socialista sem a necessidade de uma Revolução, a qual era contra. O livro mais famoso do autor é conhecido como Socialismo Evolucionista.

[3] Editorial do primeiro número do Boletim da Oficina de Ciências Sociais.