25 de abr. de 2007

[CALCS] Chamada para Reuniões: ACA, CAs do CFH, e Reunião noturna do CALCS

Pessoal!
De acordo com a reunião de terça (dia 24), amanhã (dia 26) teremos reunião do CA às 17:30h, para discutirmos possíveis temas e propostas a serem levados ao pré- ERECS, em Blumenal; e tbm p/ fazermos uma avaliação da Semana de CSO.
Abraços,
Sabrina.

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Mais duas reuniões... Na sexta com ACA - Na sala 310 com vários CA que estão discutindo questão da avalição de curso. E com os CAs do CFH na mesma quinta sobre o espaço em conjunto dos CAs.

A minha indicação é que para quem esteve na última dos CAs do CFH vá nesta, duas ou três pessoas, e depois repasse para todos os estudantes e sobre a ACA, podemos incluir como ponto de pauta pra quinta. Pessoal vamos pensar projetos e propostas para o ERECS.

Boni
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Sabrina,
eu queria solicitar pra fazer uma reunião do CA a noite em consideração das pessoas que fazem duas faculdades ou trabalham e não tem condições de participar das reuniões..
pode levar esse ponto na reunião.. eu vou tentar ir, mas vou chegar muito tarde, vc acha que às 7hs ainda esteja rolando a reunião?
obrigada..
Até.
Laura
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Laura,

essas reuniões às 17:30h são exatamente para contemplar, de certa forma, o pessoal que estuda a noite. Como a aula inicia às 18:30h, às 19h a reunião já pode ter terminado, mas sempre fica um pessoal pelo CA nesse horário caso você queira conversar e saber o que rolou.

Abraço...
Sabrina

[CEB] Quinta e Sexta

Pessoal!!!
Hoje no CEB conseguimos uma grande vitória que foi a proposta estudantil de regulamentação das festas, que entre outros pontos obriga a universidade a garantir segurança, banheiros e alvarás. Com relação as horas felizes a nossa proposta desobriga a pilha de burocracia sendo que será necessário apenas a autorização da direção do centro onde está se fazendo a festa e da segurança.
Conseguimos em outro ponto uma grande vitória que foi impedir a cobrança de ingressos para festas fechadas dentro da UFSC, sendo que 18 CAs votaram contra e 13 a favor.
Amanhã terá outro CEB para discussão da questão das bolsas, que ficará como relatória dos representantes estudantis no próximm CUn. Será amanhã as 12:15, no auditório do Convivência. Eu vou até pq fiquei na comissão de elaboração do documento, mas quanto mais gente melhor.
RODRIGO

[Textos] Escola das Américas

ESCOLA DAS AMÉRICAS

Foi então ... Era quatro da tarde, e aquilo não podia estar acontecendo! Como em Bagdá, como em Faluja, como em Ramalah, como em Mogadíscio, como no Saara Espanhol – de repente estavam ali os canhões e os tanques e as tropas, e aquilo parecia reportagem que se via na Al-Jazeera durante a Guerra do Líbano, e os canhões e os tanques a tudo cercaram e interromperam o acesso à água, bloquearam as estradas e ninguém mais entrava e nem saía, e um tanque derrubou uma barraca que tinha dentro mulher grávida e criança, e o terrorismo implantado foi coisa que nem merece ser descrito neste texto que falava na beleza dos sonhos, da resistência e da Esperança! Em pouco, pouquíssimo tempo, os recém-chegados deram aos experientes e aos inexperientes um curso completo do que é, realmente, o Exército, aquele que a gente se acostumou a considerar "Braço forte, mão amiga" e da confiança que se pode ter nas autoridades. O final da tarde e a noite foi coisa para nunca se esquecer, e o que eu fico pensando é que muitos, decerto a maioria daqueles soldados que ali estavam também eram filhos de gente pobre e humilhada, e que talvez fizessem o seu papel de monstros lembrando vagamente onde estariam seus pais, suas irmãs, seus filhos... Mas o Monstro lhes mandava aterrorizar e eles aterrorizavam, e bem que tenho ouvido falar que continua bem em atividade a Escola das Américas![2] Pode-se resumir o acontecido numa frase: a total ausência de qualquer respeito à dignidade humana naqueles campos. Ordens em altas vozes, no alto falante dos soldados, dizia coisas como "A ordem tem que ser cumprida!" "Vamos atacar, vamos desocupar a área!" "Vamos cumprir a ordem!", intermediadas por hinos patrióticos, e de discursos de intimidação, que falavam muito como "a noite vai ser dolorosa, a noite vai ser longa!". Há que se pensar que tais coisas aconteciam dentro de total escuridão, mas que antes que a noite caísse, postara-se ali, além dos caminhões e outros veículos, os enormes três tanques e uma dolorosa e macabra fileira de ambulâncias.
Foram horas e horas, toda uma noite de terror, principalmente para as crianças, e não fosse a gente pobre tão unida e tão capaz de juntar suas parcas forças para resistir, e talvez o estrago fosse pior. No meio do terror, do barulho, da fumaça que cegava a todos dentro do acampamento, das técnicas de aterrorizamento nos alto falantes e pelos próprios canhões, tanques e ambulâncias, a gente pobre se uniu e negociou o quanto pode – o inimigo era mais forte, havia que capitular. E o sonho daquela terra acabou. Não sei se ficaram lá as 1.900 sementes de repolho daquele horticultor, quando os agricultores tiveram, mais uma vez, que abandonar aquela terra mais de uma vez encharcada de sangue, como o vinham fazendo desde os tempos de Percival Farquhar.
Fico aqui me perguntando uma pergunta sem resposta: quem deu a ordem para aquele terrorismo de guerra sobre a população indefesa? Temos no poder um homem que acreditamos ser representante do povo. Teria partido dele a autorização para aquilo? Quem autorizou? É bem verdade que no fim ninguém morreu de bala e de granada – mas, e a morte lenta pelo abandono, pela pobreza, pela falta de perspectiva? Onde estão os direitos do ser humano?
E O QUE É QUE AQUELA SOJA ESTAVA FAZENDO LÁ? Que as autoridades competentes me expliquem!

Blumenau, 16 de abril de 2007.


Urda Alice Klueger
Escritora

[Textos] As sete horas

AS SETE HORAS

Se a escuridão primeira e a muita chuva segunda haviam atrapalhado muita coisa, e mesmo assim as coisas foram se organizando, dá para imaginar as tantas coisas mais que foram feitas naquelas sete horas seguintes! Quem sabe o menino da cesta de Páscoa e do capuz vermelho até tenha achado um lagarto e pensado que era um filhote de Tiranossauro requi – quem sabe tomou um banho na cachoeira, como nos dissera no decorrer da noite que faria, quando ainda no ônibus.
É possível que o Homem Velho tenha achado um lugar de terra muito macia, e feito um primeiro canteiro, e tenha começado a semear as primeiras 1.900 sementinhas de repolho! Cada um, ali, estava pejado de sonhos e planos, e como aquela ali era uma improdutiva e abandonada terra do Exército, decerto que logo sairia um decreto para regularizar aquela situação, pois o Exército obedecia a chefes lá em Brasília e não a fazendeiros violentos e nem a juízes regionais – um tempo de Esperança tinha começado! Estava muito claro que as chefias políticas jamais iriam permitir que o Exército disparasse uma única bala sobre aquele povo pobre e armada apenas de seus sonhos e da esperança no Futuro – era tempo para risonhos sonhos! E aquelas sete horas transcorreram com os carreiros de formiga cheios de inesgotáveis energias, caminhando sem cessar em direção ao porvir, e havia comida cozinhando nas fogueiras, e havia chimarrão fumegante nas cuias, e havia cheiro de café no ar, e as crianças aprendiam as canções dos Sem-terrinha! Não dá nem para imaginar tudo o que aconteceu naquelas sete horas!


Blumenau, 16 de abril de 2007.


Urda Alice Klueger
Escritora

[Textos] Como carreiros de formigas

COMO CARREIROS DE FORMIGAS

A luz do dia trouxe toda uma vida nova para aquela gente que sonhava com coisas maravilhosas como canteiros vicejantes e sorriam de esperança, e enquanto as mulheres cuidavam das crianças sob os toldos improvisados, homens velhos e homens novos, sem temor da chuva intensa que não parava, andavam pelo descampado e pelo mato ralo como se fossem carreiros de formigas, e seus certeiros golpes de facão cortavam as árvores finas que seriam os esteios das suas casas, e eles se ajudavam em grupos, e esqueletos de moradias que seriam cobertas de lona cresciam por toda a parte, e logo havia muitas, muitas casas novas, e toda uma cidade de lonas de plástico nascia ao mesmo tempo.
Depois de mais de quatro horas sem dar sossego a ninguém, de repente a chuva foi ficando fina, virou garoa... quando nos demos conta, havia parado! E os carreiros de formiga continuavam por todos os lados, e agora se traziam colchões, panelas, fogões antigos, ursos de pelúcia meio estraçalhados, baldes de plástico sem alça, trouxas de roupas – esperara-se a chuva acalmar para se descarregar ônibus e caminhões – e os carreiros de formiga faziam novas casas e mobiliavam as velhas, e mesmo estando o solo encharcado, as casas iam sendo organizadas, e
também se organizou uma assembléia para se decidir e se informar coisas sobre a posse da terra, e falou-se da terra que era fértil e não era de nenhum fazendeiro, o que afastava a possibilidade de jagunços, e como havia risos e sonhos, e vontade de trabalhar naquela gente que passara a noite sem dormir! Devia ser umas nove da manhã, o que quer dizer que faltavam sete horas para os canhões e os tanques, como se ali fosse a Palestina, ou o Iraque, ou o Afeganistão...
E os carreiros de formiga continuaram andando e carregando, e como era grande a Esperança!

[Textos] As Pessoas e As Coisas

AS PESSOAS E AS COISAS

A chuva fina deu lugar à tempestade; até trovões rolavam no céu. Poucas fogueiras resistiam àquela água toda; uma e outra lanterna mostravam a azáfama que havia por tudo. Montes de coisas e montes de pessoas eram cobertas por lonas de plástico, quando dava – pois muita gente e muitas coisas estava mesmo era se molhando impiedosamente. Mesmo com tanta chuva, depois de um tempo infinito, a barra do dia acabou começando a se formar, e houve um momento em que já se conseguia distinguir vultos, montes, toldos – e impressionava-me com aquelas pessoas que ficavam de pé, firmemente segurando alguma estaca ou alguma ponta de uma lona que cobrisse um grupo inteiro. Conforme clareava eu podia distinguir os rostos daqueles postes vivos, e impressionava-me ver aqui um professor doutor; ali, uma universitária que eu imaginara que só pensava em baladas; acolá, o mauricinho que vivia de calça de vinco e camisa social – isto é, estas eram as caras de alguns dos apoiadores, pois a grande maioria eram as caras das pessoas de muitos filhos e pouca comida, aquela gente sofrida que ria de felicidade ao pensar nos seus sonhos parecidos com os sonhos do homem velho, o sonho dos canteiros vicejantes, e quando pensava neles, os olhos daquelas pessoas tremeluziam de luz!
E apesar da chuva fez-se dia, e então, impressionada, eu olhava sem conseguir distinguir muito bem o que eram montes de coisas e montes de pessoas, pois assim como montes
de coisas tinham sido cobertos com lonas de plástico, também montes de pessoas o tinham sido, e lá no chão encharcado, acocoradas ou sentadas, as pessoas resistiam aos elementos assim como vinham resistindo à fome, às humilhações, à exclusão social, desde o tempo em que tinham nascido. Às vezes eu pensava que estava olhando para um monte de coisas, e então, de repente, sob a beira do plástico uma criança ou um adulto espiava para fora, e então eu entendia que eram
pessoas, e não coisas – e ficava a pensar que os reais culpados por aquilo tudo eram os que estavam no comando do Capital, e que eram eles quem decidiam a sorte de cada um, quem deveria viver sub humanamente, como montes de coisas, embora fossem pessoas e não coisas, e que àqueles comandantes do Monstro do Capital pouco se lhe dava sequer se aquelas pessoas viviam ou morriam. Talvez morressem mesmo; faltavam só dez horas para os canhões e os tanques.

Blumenau, 16 de abril de 2007.


Urda Alice Klueger
Escritora

[Textos] O Homem Velho

O HOMEM VELHO

Dentro da noite de breu, quatro horas da manhã, entramos no terreno. Umas poucas pessoas já tinham entrado antes – quando o dia clareasse haveria ali 500 famílias, mais todos nosostros, os apoiadores dos mais diversos lugares. Uma chuvinha fina ensaiava engrossar, e alguns grupos já haviam acendido algumas pequenas fogueiras. Alguma coisa me dizia que a cachoeira ficava lá para aquele lado, e então fui para lá, e parei na última fogueira que havia naquela direção. Alguns homens haviam estendido uma lona e feito um precário abrigo, e me abriguei junto deles, a me informar onde ficava a fonte d´água.
- Alguém sabe me dizer que terra é esta, afinal? – era um homem velho – talvez não o fosse muito, mas a barba embranquecida, o rosto castigado pelo tempo, pela pobreza, quiçá por muitas fomes, fazia com que parecesse homem de muita idade. Na noite de breu eu o via à luz do pequeno fogo, com seu jeito de polaco, e fiquei prestando atenção. Ninguém sabia lhe responder. Ele insistia:
- Uns dizem que é terra do governo; outros dizem que é terra do exército. Mas o que faz esta soja aqui? Quem está plantando aqui? Que terra é esta?
Eu sabia que terra era aquela.
Disse-lhe que sabia.
- Esta terra era da Lumber.
O homem pensou, ponderou, me avaliou.
- Da Lumber? Meu pai falava na Lumber!
- Pois é... Era terra da Lumber...
É necessário um parágrafo, agora, para dizer quem era a Lumber, já que a maioria das pessoas não gosta tanto de História quanto eu, mas tem uma imensidão de gente que gosta de televisão, e faz pouquinho tempo que a televisão apresentou uma mini-série sobre Percival Farquhar e a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Lembraram? Pois a Lumber não era outra coisa que uma madeireira pertencente ao mesmo Percival Farquhar que construiu a Madeira-Mamoré. Como ele viveu mais de 90 anos, nem consigo fazer conta de quantas maldades foi autor.
Lá no princípio do século XX, Percival Farquhar fechou negócio com o governo brasileiro: construiria uma ferrovia que iria de São Paulo até o Rio Grande do Sul, em troca de... apenas 15 km de terra de cada lado, férteis terras cobertas de centenários pinheiros (aqueles que a gente chama de pinheiro do Paraná, a Araucária brasiliensis). Quinze de cada lado da uma larguíssima faixa de 30 quilômetros, pejada de boa madeira, uma loucura de pinheiros a serem cortados e embarcados para o exterior, caso a ferrovia fosse em linha reta – só que Percival Farquhar mandou construí-la completamente cheia de curvas, o que aumentou muitíssimo a área a tomar posse. Nessa coisa de posse, no entanto, havia um pequeno entrave: morava gente naquela terra. Pelos séculos afora sempre um pouco de gente foi entrando pelos sertões do Brasil, e lá foi tendo filhos e se multiplicando, e aqueles pinheirais, 400 anos depois de Cabral, estavam cheios de pessoas que viviam de pequenas agriculturas e criação de um pouco de gado. Percival Farquhar, então, criou a Lumber, e ela foi a encarregada de dar sumiço naquela gente. Primeiro, o povo foi ameaçado, amedrontado, e um bocado de gente acabou caindo fora – quem resistiu, acabou morrendo. O requinte da violência chegou a tal ponto que a Lumber importou creio que duas centenas (já não lembro exatamente o número) de pistoleiros, aqueles que a gente chama de caubóis e que costuma ver em filme de bandido e mocinho, e eles vieram inclusive com seus cavalos de arreios enfeitados de prata. Quem não se amedrontou o suficiente para correr, morreu na pontaria dos caubóis que falavam inglês, e a Lumber acabou "limpando" as terras. Resultado: uma guerra que seria dolorosamente lembrada no futuro, a do Contestado, que durou de 1912 a 1916, queimou 9.000 casas e matou 30.000 pessoas, sendo civis 90% dos mortos.[1] Até aviação de guerra foi usada, pela primeira vez no mundo, naquela região. Portando, o homem velho, agora, se arrepiava ao lembrar do que o pai dele contava – ele decerto sabia o quanto aquela terra estava impregnada de sangue, como ela havia sido tirada do povo um dia! Fiz mentalmente um cálculo: estávamos a 6,5 km da estrada de ferro – portanto, ali era, sem nenhuma dúvida, antiga terra da Lumber.

Quando a Lumber se fora, tão pejada e pesada de ouro quanto um verme gordo, que já quase não consegue mais se arrastar de tão pesado, aquela terra ficara para o governo brasileiro. No fim dos anos cinqüenta, Juscelino Kubitschek a passara, por decreto, para o Exército, que por algum tempo andou por lá, usando-a como campo de exercícios e fazendo mais um bocado de maldades com quem morava ali por perto. Tem ações de monte na justiça, desde então, para confirmar amplamente o que aqui digo, bem como outras barbaridades que vou pular, pois senão vou cansar o leitor.

O fato é que por duas vezes o povo brasileiro já fora expulso daquelas terras à força, e o fato é que agora estava voltando, mas o homem velho estava inconformado:
- Se é do Exército, quem é que está plantando aqui? Olha, olha aqui, dona, veja a soja! – e munido de uma tocha feita de um pau de lenha, ele iluminou o chão e, como agricultor conhecedor que era, arrancou um punhado de ramos rasteiros de tão pisoteados, onde até eu reconheci a soja. Fiquei pasma, sem saber explicar nem para mim: se a terra era do Exército, quem plantava agricultura de rico nela? Há pouco vi fotos que foram tiradas lá depois que o dia amanheceu, e não há dúvida quanto à plantação de soja naquelas terras. Decerto que o Exército não fica mandando soldados lá para cultivar a terra – haverá algum oficial arrendando a terra para fazendeiros ricos produzirem a baixo custo? Eu acho que o Exército deve muitas explicações a nós, brasileiros – inclusive sobre aquela plantação de soja. Então para rico não há canhão, não há tanque, não há tiro, não há terrorismo? Pior é que esta é uma história de verdade! Senhor ministro, há que sabermos o que se passa lá!

A soja na mão, a indagação na testa, de repente o rosto do homem velho suavizou-se, e à luz da tocha pude ver o sonho bailar nos olhos azuis dele. Do bolso de dentro do casado ele tirou um pacotinho de nada, coisa que cabia na palma da mão.
- Dona, sou horticultor. Se esta aqui é mesmo terra do Exército, então decerto a gente vai poder ficar. Veja estas sementes – parecia tão pequeno aquele pacotinho! – São sementes de repolho japonês. Tem aqui 1.900 sementes. Quando amanhecer, vou começar a plantá-las. Vão ser 1.900 repolhos em pouco tempo! - e ele era todo brandura e emoção ao pensar nas suas carreiras de repolho crescendo! Emocionei-me também, pois emoções assim lindas mexem com a gente. Como poderia pensar que 12 horas depois aquele homem que sonhava com canteiros cheios de alimento estaria diante de tanques, sob a mira de canhões? Como é que plantador de soja podia, e horticultor pobre não podia? Como é isto, heim,
senhor ministro? Como é, heim, heim?

Blumenau, 16 de abril de 2007.


Urda Alice Klueger
Escritora

[Textos] Braço Forte, Mão Amiga

"BRAÇO FORTE, MÃO AMIGA"?

OS MENINOS
Eles eram irmãos, e na sua simplicidade explodiam de inteligência. Um já estava mais grandinho, já perdera um pouco da espontaneidade – o de seis anos, no entanto, ainda tinha a candura de um anjo, um moleton vermelho com capuz, uma cesta de Páscoa na mão, e uma falha no lugar onde um dente novo estava nascendo.
- Lá eu vou ter um cachorro novo!
Eu e alguns amigos dávamos-lhe corda:
- Lá tem passarinho...
- E tem lagarto...
- Tem cachoeira? – ele queria saber.
- Tem. E tem muito lugar para brincar.
- Tem dinossauro?
- Não, dinossauro não tem!
- Mas tem Tiranossauro requi!
- Também não tem tiranossauro. Onde ficou o teu cachorro?
- O vizinho vai cuidar dele. O nome dele é Tupi.
É difícil encontrar-se coisa mais autenticamente brasileira do que um menino de seis anos com um cachorro chamado Tupi. E também é difícil encontrar-se vizinhos tão solidários que cuidam dos cachorros alheios, como a gente encontra na solidariedade gerada pela pobreza. Penso que a pobreza extrema só consegue sobreviver, mesmo, porque existe a solidariedade. E é ela que vai ficando com os Tupis que ficam ao longo dos caminhos.
Sorrindo dentro do capuz vermelho, pura confiança diante da vida, o menino avisava:
- Eu sou valente. Sou homem. Não tenho medo. Sei fazer café.
- Sabes?
- Sei. Quando a minha mãe estava doente, quando a minha irmãzinha estava para nascer, eu aprendi a fazer café. E também sei fazer ovo. Cozido e frito.
- Sabes cozinhar arroz?
O desapontamento:
- Comida de sal eu não sei.

Ele não era um menino. Era ternura pura. Mal dava para crer que dali a poucas horas estaria sob a mira de um canhão, diante de um tanque do Exército pronto para disparar. Estaríamos na Palestina? No Iraque? Não. Era a Santa e bela Catarina, na chamada Europa brasileira, e esta história é de verdade, e faz só umas quarenta horas que começou a acontecer. E só umas trinta que os canhões começaram a ameaçar o menino. De verdade e para valer.


Blumenau, 16 de abril de 2007.


Urda Alice Klueger
Escritora

[Textos] Ocupação de Papanduva

PESSOAS.. LANÇAMENTO HOJE DO CÔMITE!
Repasso este textos produzidos pelas pessoas que estavam na ocupação que ocorreu em Papanduva (SC) nos dias 15 e 16/04 em terras da união, que são no momento administradas pelo EXÉRCITO da República Federativa do BRASIL e que estavam sendo ILEGALMENTE arrendadas para grandes plantadores de soja da região .Estas terras são do POVO BRASILEIRO! E devem ser usadas para atender ao povo brasileiro que precisa de terra e comida para sobreviver!

Haviam várias colegas nossos das Sociais que participam de vários movimentos e organizações de luta pelos direitos HUMANOS.

Já mandei outros emails e estão rolando em várias listas informações a respeito... Então quem estiver interessado... Curta! O PESSOAL DO CINEMA FEZ UM DOC da Ocupação!

http://www.youtube.com/watch?v=wZy-YolfgDk

Boni
TERRA LIVRE!
Venceremos!