25 de abr. de 2007

[Textos] As sete horas

AS SETE HORAS

Se a escuridão primeira e a muita chuva segunda haviam atrapalhado muita coisa, e mesmo assim as coisas foram se organizando, dá para imaginar as tantas coisas mais que foram feitas naquelas sete horas seguintes! Quem sabe o menino da cesta de Páscoa e do capuz vermelho até tenha achado um lagarto e pensado que era um filhote de Tiranossauro requi – quem sabe tomou um banho na cachoeira, como nos dissera no decorrer da noite que faria, quando ainda no ônibus.
É possível que o Homem Velho tenha achado um lugar de terra muito macia, e feito um primeiro canteiro, e tenha começado a semear as primeiras 1.900 sementinhas de repolho! Cada um, ali, estava pejado de sonhos e planos, e como aquela ali era uma improdutiva e abandonada terra do Exército, decerto que logo sairia um decreto para regularizar aquela situação, pois o Exército obedecia a chefes lá em Brasília e não a fazendeiros violentos e nem a juízes regionais – um tempo de Esperança tinha começado! Estava muito claro que as chefias políticas jamais iriam permitir que o Exército disparasse uma única bala sobre aquele povo pobre e armada apenas de seus sonhos e da esperança no Futuro – era tempo para risonhos sonhos! E aquelas sete horas transcorreram com os carreiros de formiga cheios de inesgotáveis energias, caminhando sem cessar em direção ao porvir, e havia comida cozinhando nas fogueiras, e havia chimarrão fumegante nas cuias, e havia cheiro de café no ar, e as crianças aprendiam as canções dos Sem-terrinha! Não dá nem para imaginar tudo o que aconteceu naquelas sete horas!


Blumenau, 16 de abril de 2007.


Urda Alice Klueger
Escritora

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