“Faz escuro, mas eu canto...”
Encontros estudantis e práxis política nas Ciências Sociais
As Ciências Sociais estão marcadas contemporaneamente pelo discurso academicista. Estudamos homens e mulheres vivendo em sociedade, mas fazemos questão de permanecer enclausurados entre os muros da Universidade. A lógica meramente produtivista e a separação entre ciência, política e arte têm colocado barreiras para a nossa ação e fragmentado os nossos movimentos.
Esta lógica, infelizmente, também perpassa os nossos encontros estudantis, a sua organização evidencia alguns dos problemas enfrentados pelas Ciências Sociais no Brasil. A estrutura tripartida (momentos acadêmicos, políticos, culturais) e burocratizada longe de agregar mais estudantes para o debate, só os afasta e parece confirmar uma visão de que a política é algo enfadonho. Não bastasse isto, os encontros estudantis de Ciências Sociais parecem ser o reino da “desmemória”: de um encontro para outro não avançamos nas discussões, sempre voltamos aos mesmos pontos. Essa prática tanto vulgariza as discussões quanto passa a idéia de que a política é uma prática que não rende frutos, que não fundamenta e não orienta a ação.
É neste difícil contexto que, em maio de 2009, no Encontro Regional de Ciências Sociais, foi criada a CRECS - Coordenação Regional d@s Estudantes de Ciências Sociais do Nordeste. Desde lá, ela vem cumprindo o papel fundamental de ser um dos instrumentos que tem impulsionado a maior articulação entre as escolas da região, colaborando assim no processo de reorganização do movimento estudantil de Ciências Sociais. Essa maior articulação vem possibilitando uma análise critica conjunta das Escolas sobre encontros estudantis e culmina na resolução de que precisamos reformular nossas práticas políticas e nossos encontros. Os encontros universitários podem, e devem, ser o que não estão sendo: um espaço que fomente a criatividade, a criticidade e um intercâmbio de experiências entre @s estudantes e as escolas.
Os temas, ao invés de morrerem na mesa de abertura, devem orientar os outros espaços, assim os encontros não terão uma estrutura tão fragmentada. No que se refere às vivências, acreditamos que é necessário realizar espaços anteriores e/ou posteriores – queremos vivências que problematizem o vivido. É urgente que os Grupos de Discussão saiam da “desmemória” e, cumulativamente, orientem nossa estratégia de ação – sair de um “discursismo” e “praticismo” estudantis para a práxis (reflexão teórica + ação política).
Somente quando as Ciências Sociais largarem o discurso academicista e apartado da política elas passarão a influir realmente na luta d@s oprimid@s. @ cientista social não deve ser apenas um@ colecionador@ de pesquisas no currículo, mas um@ intelectual que, empenhando-se na atividade científica, está empenhad@ nas questões do nosso tempo.
O que queremos de fato é que as Ciências Sociais e os seus encontros estudantis voltem a ser perigosos.
CRECS - Coordenação Regional das Estudantes de Ciências Sociais
I Conselho Regional de Entidades de Ciências Sociais do Nordeste
Recife, 01 de novembro de 2009
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