repassando...
Olá,
Ontem fomos chamados as pressas pra Imbituba porque a cidade estava cheia de policiais, de vários municípios vizinhos, os agricultores da ACORDI estavam desesperados que fossem efetuar a sentença da justiça de reintegração de posse, e haviam boatos que iam começar pelo Seu Antero. Fomos até lá prestar solidariedade e felizmente nada aconteceu, por enquanto (não sabemos se por nossa mobilização ou se a Policia estava lá por outra finalidade). Hoje foi outro grupo da UFSC contribuir na vigilia.
Toda forma de solidariedade é bem vinda neste momento. Quem quiser ir fazer uma visita a comunidade será muito bem recebido.
Se quiserem mais informações têm alguns blogs apoiando, como este: http://imbitubaurgente. blogspot.com/
Abaixo segue um relato da atividade de ontem, pelo companheiro Pepe...
Crônica de um Mandado de Despejo
Por Pepe Pereira dos Santos, Leandro Monteiro Dal Bó e o grupo de
solidariedade às comunidades tradicionais de Imbituba
Tarde de uma quinta-feira, véspera de jogo do Brasil na copa da
áfrica. Em Imbituba, sul de Santa Catarina, sul do Brasil, o que está
em campo no sítio do Sr. Antero Francisco Cardoso na Volta da Taboa,
nos Areais da Ribanceira, entrada da cidade, é outra escalação. Perú,
cabras, bois, cavalos, galinhas, jegues, cachorros, universitários,
sindicalistas, amigos, parentes, ativistas do MST, todos contra o
dilúvio de uma ordem de despejo requerida pela [juíza Tal da vara
Tal].
A ordem judicial é contra agricultores tradicionais de uma área de 240
hectares. Aqui existe a ACORDI, Associação Comunitária Rural de
Imbituba. Essa verdadeira Arca de Noé, que é a pequena propriedade do
Seu Antero, de 3 hectares, já sobreviveu a outra tentativa de despejo
a 4 anos atrás, quando a família teve a casa queimada por jagunços do
que se dizia proprietário destas terras [Fulano de Tal]. Terras há
décadas cultivadas por cerca de 50 famílias que têm como principal
atividade, o plantio e o beneficiamento da mandioca.
Portanto, a resistência a esta nova tentativa de despejo faz com que a
Dona Aurina Abreu, esposa de Seu Antero, esteja com os nervos bastante
abalados. Temerosa dos desfechos dos acontecimentos, ela saúda e
cumprimenta com certo alívio a chegada de cada um que vem para se
somar ao pequeno grupo de solidariedade. Entre estes está Rui,
ex-sindicalista, militante da brigada urbana Mitico do MST, morador da
região. Preso arbitrariamente enquanto ajudava na organização da
ACORDI, juntamente com a atual presidente da associação Marlene Borges
e o advogado e agricultor Altair Lavratti, membro da direção estadual
do MST.
Foram presos e algemados acusados de formação de quadrilha e de
estarem organizando invasão das terras que já são ocupadas por esses
moradores há décadas. Essa prisão, na época, foi contestada por todos,
inclusive por setores da própria polícia de SC e Federal em notas
oficiais, publicadas nos veículos de comunicação, com repercussão
nacional e mobilizações de várias organizações em defesa do direito
dos presos e da comunidade tradicional local. Depois a justiça veio a
questionar as prisões. Hoje todos os presos abriram processos contra o
Estado, pedindo reparação. Vale frisar que Marlene, a presidente da
ACORDI, está grávida; gravidez de risco, sabidamente. Foi presa em sua
residência às 5 da madrugada em uma operação de guerra montada pela
polícia que cercou sua casa acompanhada por uma equipe da RBS.
Difícil reparar os traumas de um evento dessa natureza, magnitude e
violência. Os presos ficaram incomunicáveis durante 12 horas em locais
não sabidos pelos familiares e advogados, violando flagrantemente as
leis criminais e a própria Constituição.
É, portanto, explicável a expectativa desse pequeno grupo que se reúne
em solidariedade ao Seu Antero nessa véspera de dia de jogo da Seleção
de futebol Brasileira na copa do mundo. Aqui o jogo dos adversários é
duro. E pelos comentários, está prestes a acontecer.
O mandado de despejo já foi expedido. Os moradores temem que tais
mandados sejam executados após a Sétima Feira da Mandioca realizada em
Imbituba na sede da ACORDI nos dias 24 a 27 de junho de 2010, no fim
de semana último. Evento que reuniu milhares de visitantes vindos da
região de Imbituba, de outros municípios, de outros estados e até de
outros países. Autoridades estaduais e federais. Não vieram as
autoridades locais. Parece que estas estão no time dos adversários. A
elite local pretende que no espaço aonde vivem os agricultores, que
dali tiram seu sustento, seja construída uma fábrica de cimento da
Votorantim. Além de empreendimentos imobiliários de alto padrão.
As terras, que são originalmente da União foram negociadas de formas
suspeitas. Localizam-se entre o mar e a BR-101. O que atiça a cobiça e
a pressão legal e ilegal para que os moradores e agricultores
abandonem suas terras.
Final de tarde, quase noite. A expectativa continua no grupo de
solidariedade. A noite vai ser longa na casa do Seu Antero. Muitos
convidados ficarão para dormir.
O temor é que o despejo ocorra enquanto todos estão com a atenção
voltada para a copa. Amanhã às 11 horas, horário local, a Seleção
Brasileira entra em campo. Aqui nas Areias da Ribanceira, Seu Antero
já está há muito tempo neste campo, neste jogo e para ele e a Dona
Aurina, essa é mais uma jogada, mas a expectativa é grande. A
diferença é que ela traz o medo da perda do seu espaço de vida.
Enquanto todos os olhares do mundo se voltam para a copa do mundo na
África do Sul, em Imbituba, Santa Catarina, sul do Brasil, o mundo de
dezenas de famílias pode acabar. Aqui o resultado do jogo é mais
arriscado. É tudo ou nada. Como final de campeonato, para uma linda
região, uma comunidade tradicional, expulsa do campo, fica fora de
jogo como milhões de excluídos da terra. A terra sem estes guardiões
tem o seu meio ambiente ameaçado. O cartão do juiz não é o vermelho.
Parece mais o verde dos dólares que move os interesses nesta região
portuária. A “arca de noé” de Seu Antero é todo um modo de vida que
pode ser levado pelo dilúvio dos interesses do mercado.
O grupo está na expectativa de que o caso se resolva em favor da
maioria comunitária não dos interesses da minoria especulativa. A
Seleção Brasileira foi derrotada e volta para casa, mas o povo
continua em luta e permanece em resistência.
Eu sou Pepe Pereira dos Santos juntamente com Leandro Monteiro Dal Bó
e o grupo de solidariedade em mais uma partida decisiva para as
comunidades tradicionais de agricultores do sul de Santa Catarina e do
Brasil.
http://picasaweb.google.com. br/leandro.db/ ImbitubaCronicaDeUmMandadoDeDe spejo
Ontem fomos chamados as pressas pra Imbituba porque a cidade estava cheia de policiais, de vários municípios vizinhos, os agricultores da ACORDI estavam desesperados que fossem efetuar a sentença da justiça de reintegração de posse, e haviam boatos que iam começar pelo Seu Antero. Fomos até lá prestar solidariedade e felizmente nada aconteceu, por enquanto (não sabemos se por nossa mobilização ou se a Policia estava lá por outra finalidade). Hoje foi outro grupo da UFSC contribuir na vigilia.
Toda forma de solidariedade é bem vinda neste momento. Quem quiser ir fazer uma visita a comunidade será muito bem recebido.
Se quiserem mais informações têm alguns blogs apoiando, como este: http://imbitubaurgente.
Abaixo segue um relato da atividade de ontem, pelo companheiro Pepe...
Crônica de um Mandado de Despejo
Por Pepe Pereira dos Santos, Leandro Monteiro Dal Bó e o grupo de
solidariedade às comunidades tradicionais de Imbituba
Tarde de uma quinta-feira, véspera de jogo do Brasil na copa da
áfrica. Em Imbituba, sul de Santa Catarina, sul do Brasil, o que está
em campo no sítio do Sr. Antero Francisco Cardoso na Volta da Taboa,
nos Areais da Ribanceira, entrada da cidade, é outra escalação. Perú,
cabras, bois, cavalos, galinhas, jegues, cachorros, universitários,
sindicalistas, amigos, parentes, ativistas do MST, todos contra o
dilúvio de uma ordem de despejo requerida pela [juíza Tal da vara
Tal].
A ordem judicial é contra agricultores tradicionais de uma área de 240
hectares. Aqui existe a ACORDI, Associação Comunitária Rural de
Imbituba. Essa verdadeira Arca de Noé, que é a pequena propriedade do
Seu Antero, de 3 hectares, já sobreviveu a outra tentativa de despejo
a 4 anos atrás, quando a família teve a casa queimada por jagunços do
que se dizia proprietário destas terras [Fulano de Tal]. Terras há
décadas cultivadas por cerca de 50 famílias que têm como principal
atividade, o plantio e o beneficiamento da mandioca.
Portanto, a resistência a esta nova tentativa de despejo faz com que a
Dona Aurina Abreu, esposa de Seu Antero, esteja com os nervos bastante
abalados. Temerosa dos desfechos dos acontecimentos, ela saúda e
cumprimenta com certo alívio a chegada de cada um que vem para se
somar ao pequeno grupo de solidariedade. Entre estes está Rui,
ex-sindicalista, militante da brigada urbana Mitico do MST, morador da
região. Preso arbitrariamente enquanto ajudava na organização da
ACORDI, juntamente com a atual presidente da associação Marlene Borges
e o advogado e agricultor Altair Lavratti, membro da direção estadual
do MST.
Foram presos e algemados acusados de formação de quadrilha e de
estarem organizando invasão das terras que já são ocupadas por esses
moradores há décadas. Essa prisão, na época, foi contestada por todos,
inclusive por setores da própria polícia de SC e Federal em notas
oficiais, publicadas nos veículos de comunicação, com repercussão
nacional e mobilizações de várias organizações em defesa do direito
dos presos e da comunidade tradicional local. Depois a justiça veio a
questionar as prisões. Hoje todos os presos abriram processos contra o
Estado, pedindo reparação. Vale frisar que Marlene, a presidente da
ACORDI, está grávida; gravidez de risco, sabidamente. Foi presa em sua
residência às 5 da madrugada em uma operação de guerra montada pela
polícia que cercou sua casa acompanhada por uma equipe da RBS.
Difícil reparar os traumas de um evento dessa natureza, magnitude e
violência. Os presos ficaram incomunicáveis durante 12 horas em locais
não sabidos pelos familiares e advogados, violando flagrantemente as
leis criminais e a própria Constituição.
É, portanto, explicável a expectativa desse pequeno grupo que se reúne
em solidariedade ao Seu Antero nessa véspera de dia de jogo da Seleção
de futebol Brasileira na copa do mundo. Aqui o jogo dos adversários é
duro. E pelos comentários, está prestes a acontecer.
O mandado de despejo já foi expedido. Os moradores temem que tais
mandados sejam executados após a Sétima Feira da Mandioca realizada em
Imbituba na sede da ACORDI nos dias 24 a 27 de junho de 2010, no fim
de semana último. Evento que reuniu milhares de visitantes vindos da
região de Imbituba, de outros municípios, de outros estados e até de
outros países. Autoridades estaduais e federais. Não vieram as
autoridades locais. Parece que estas estão no time dos adversários. A
elite local pretende que no espaço aonde vivem os agricultores, que
dali tiram seu sustento, seja construída uma fábrica de cimento da
Votorantim. Além de empreendimentos imobiliários de alto padrão.
As terras, que são originalmente da União foram negociadas de formas
suspeitas. Localizam-se entre o mar e a BR-101. O que atiça a cobiça e
a pressão legal e ilegal para que os moradores e agricultores
abandonem suas terras.
Final de tarde, quase noite. A expectativa continua no grupo de
solidariedade. A noite vai ser longa na casa do Seu Antero. Muitos
convidados ficarão para dormir.
O temor é que o despejo ocorra enquanto todos estão com a atenção
voltada para a copa. Amanhã às 11 horas, horário local, a Seleção
Brasileira entra em campo. Aqui nas Areias da Ribanceira, Seu Antero
já está há muito tempo neste campo, neste jogo e para ele e a Dona
Aurina, essa é mais uma jogada, mas a expectativa é grande. A
diferença é que ela traz o medo da perda do seu espaço de vida.
Enquanto todos os olhares do mundo se voltam para a copa do mundo na
África do Sul, em Imbituba, Santa Catarina, sul do Brasil, o mundo de
dezenas de famílias pode acabar. Aqui o resultado do jogo é mais
arriscado. É tudo ou nada. Como final de campeonato, para uma linda
região, uma comunidade tradicional, expulsa do campo, fica fora de
jogo como milhões de excluídos da terra. A terra sem estes guardiões
tem o seu meio ambiente ameaçado. O cartão do juiz não é o vermelho.
Parece mais o verde dos dólares que move os interesses nesta região
portuária. A “arca de noé” de Seu Antero é todo um modo de vida que
pode ser levado pelo dilúvio dos interesses do mercado.
O grupo está na expectativa de que o caso se resolva em favor da
maioria comunitária não dos interesses da minoria especulativa. A
Seleção Brasileira foi derrotada e volta para casa, mas o povo
continua em luta e permanece em resistência.
Eu sou Pepe Pereira dos Santos juntamente com Leandro Monteiro Dal Bó
e o grupo de solidariedade em mais uma partida decisiva para as
comunidades tradicionais de agricultores do sul de Santa Catarina e do
Brasil.
http://picasaweb.google.com.
Ao se identificar com um povo e se engajar na luta de seu sofrimento, não apenas lutamos juntos, mas, no povo e na luta, descobrimos a beleza da vida e a essência do SER HUMANO
Matheus Acosta
"Feita a revolução nas escolas, o povo a fará nas ruas."
Florestan Fernandes
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