Repassando..
Eduardo Perondi
Em 12 de outubro, cerca de 20.000 estudantes ucranianos saíram às ruas para protestar contra a decisão do governo de permitir às universidades públicas de introduzir novas taxas. Os protestos foram realizados em quinze cidades, do Oeste ao Leste do país. As maiores manifestações se deram em Kiev, Lviv, Carcóvia, Uzhhorod e Simferopol. Rivne, Ivano-Frankivsk, Zhitomir, Kamyanets-Podolsk, Sumy, Khmelnitsky, Kirovograd, Lugansk, Lutsk e Sevastopol também protestaram.
Os organizadores dos protestos foram o sindicato estudantil independente “Ação Direta” (“Priama Diya” em ucraniano) e a “Fundação de Iniciativas Regionais”. O “Ação Direta”, um sindicato de esquerda que luta pela educação libertária, tem estado ativo na defesa dos direitos e interesses estudantis contra a pressão das administrações universitárias, reformas neoliberais e serviços especiais do Estado.
Há um ano, o “Ação Direta” foi essencial na organização dos protestos quando o passado governo de Timoshenko tentou aprovar um decreto similar referente a taxas adicionais para estudantes. Então, manifestações estudantis massivas preveniram a adoção do controverso decreto. Agora, no final de agosto, o novo governo de Azarov aprovou o Decreto 796 que permite à administração das universidades instalar taxas para aulas perdidas; taxas para o uso das livrarias, postos de primeiros-socorros, ginásios de esporte e internet; para dissertações etc. As autoridades estão a ponto de aumentar as taxas para moradia e reduzir o número de estudantes bolsistas, embora a Constituição Ucraniana garanta formalmente uma educação superior gratuita.
Contrariamente às acusações da extrema-direta ucraniana de que algumas pessoas no governo são anti-ucranianas, os ativistas estudantis independentes enfatizam que o problema não está nas personalidades mas no sistema em si. Eles vêem a introdução de novas taxas como parte da ofensiva do capitalismo neoliberal contra os direitos sociais das pessoas, em particular a juventude. Eles estão fazendo chamados para resistir a tais medidas e querem estender sua luta.
Em Kiev, 2.000 estudantes participaram na marcha em direção aos prédios do Conselho de Ministros e da Administração da Presidência exigindo uma educação gratuita para todos. Entre seus lemas estavam: “Liberdade, Igualdade, Solidariedade Estudantil!”, “O conhecimento não está à venda!”, “As universidades não são mercados!”, “Abaixo os ministros, abaixo os capitalistas!”, “Uma solução – Revolução!” “Rebelde, amor, não desista de seus direitos”. Podia-se ler nas faixas: “Solidariedade Estudantil”, “Abaixo as barreiras sociais!”, “Não entre em pânico! Junte-se a nós!”, “Lembre-se de 1968”, “Não está à venda”, e em estilo orwelliano “Guerra é Paz, Liberdade é Escravidão, Ignorância é Força... Conhecimento é Mercadoria?”. Próximo à residência governamental, os ativistas manifestaram suas exigências de cancelar todo o decreto, não somente suas posições mais ofensivas. Eles também leram a saudação de solidariedade do famoso autor ucraniano Serhiy Zhadan, e destacaram a solidariedade internacional do “Global Wave of Action for Education" e o apoio do "International Student Movement". Uma grande quantidade do jornal “Ação Direta” e folhetos invocando a luta e a auto-organização estudantil foram distribuídos.
A manifestação em Lviv foi talvez a maior. Reuniu, segundo várias estimativas, de 5.000 a 7.000 pessoas. Unidos sob o lema “educação gratuita”, os estudantes de Lviv marcharam em direção ao prédio da administração regional, local onde realizaram o piquete. O prédio foi atacado por pessoas desconhecidas que lançaram bombas de fumaça, tomates e ovos. No entanto, no final o encontro terminou pacificamente.
Em Transcarpátia, na cidade de Uzhhorod, o protesto organizado pela “Fundação de Iniciativas Regionais” contou com 600 ou até mesmo 1000 jovens, um número enorme para a menor dos 24 centros regionais da Ucrânia. Sem dúvida esta foi a maior manifestação que esta cidade presenciou nos últimos anos.
Simferopol, a capital da Criméia, foi a primeira cidade a protestar contra o controverso decreto do governo, já que a administração da universidade local foi a primeira a introduzir “serviços pagos” deste decreto (mais ainda, propôs inclusive algumas “invenções” próprias como por exemplo as taxas para refazer os exames). No dia 4 de outubro, 500 jovens convocados por marxistas radicais e anarquistas marcharam pela cidade para manifestar sua rejeição à comercialização da educação. Eles se reuniram apesar da ameaça feita pela direção da universidade de reprimir os ativistas estudantis. Uma semana depois, o resto da Ucrânia se juntou aos estudantes de Criméia, e estes saíram às ruas para uma nova manifestação, dessa vez um “flash mob”, para confirmar suas exigências.
Em Carcóvia, segunda maior cidade ucraniana, mais de 300 estudantes universitários protestaram contra as novas taxas impostas. Apesar do tempo frio, algumas estudantes tiraram suas roupas para mostrar que o aumento no custo da educação universitária deixará os estudantes de baixa renda incapazes de continuarem seus estudos, forçando-os a “vender sua própria roupa”. Uma performance parecida foi realizada em Rivne.
Enfrentando a raiva dos estudantes, o presidente Yanukovich anunciou que o decreto do governo será suspenso. No entanto, foi revelado que isto é uma mentira para acalmar os estudantes revolucionários. A campanha contra a comercialização da educação não acabou. A luta continua!
--
MarianaVieira
--
Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "CONECS".
Nenhum comentário:
Postar um comentário