20 de jun. de 2008

[Textos] Pesquisa pra quem?

*NOTA DA VIA CAMPESINA PERNAMBUCO À SOCIEDADE BRASILEIRA - PESQUISA PRA QUEM?*

Dia 10 de junho a Via Campesina Brasil deu inicio a sua Jornada Nacional de Luta Contra o agronegócio e em defesa da agricultura camponesa.

Em Pernambuco, entre várias ações que estão se realizando durante a semana, foi realizada uma ação em protesto contra a produção em larga escala de agro-combustíveis, em específico o avanço da monocultura da cana-de-açúcar. O ato foi realizado na Estação Experimental de Cana-de-Açúcar (EECAC), no município de Carpina, Zona da Mata Norte de Pernambuco. A Estação Experimental é uma Parceria Público-Privada entre o Sindaçúcar - Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco, que reúne as 20 maiores usinas do Estado - e a Universidade Federal Rural de Pernambuco, e há 38 anos desenvolve pesquisas para o desenvolvimento genético de cana, inclusive, de cana transgênica.

O objetivo da ação política não foi um ataque à universidade ou às pesquisas acadêmicas em geral. O objetivo principal foi demonstrar à sociedade que os camponeses e camponesas do Brasil são contra este modelo que privilegia a monocultura exportadora, utilizando nossas riquezas naturais, nossas terras e mão-de-obra barata, destruindo o meio ambiente e produzindo trabalho escravo. Entendemos que o papel da universidade não é usar recursos públicos para pesquisas que beneficiam usineiros, mas sim, para pesquisas que construam uma alternativa de desenvolvimento para região que possa servir à grande maioria.

A Estação Experimental de Cana-de-Açúcar recebe cerca de 6 milhões de reais por ano para investir em pesquisa de "melhoramento genético" de cana-de-açúcar. Metade desse recurso - R$ 3 milhões - são provenientes de usinas ligadas ao Sindaçúcar, o que prova a estreita relação entre
a Estação, a UFRPE e os usineiros. Os outros R$ 3 milhões são captados por projetos de pesquisa vinculados à UFRPE - ou seja, é dinheiro público.

Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o custo médio para o assentamento de uma família na região nordeste é de R$ 25 mil por família. Isso quer dizer R$ 6 milhões poderiam assentar pelo menos 240 famílias por ano no nordeste, que estaria produzindo alimentos saudáveis para elas e para a população local. Ao invés disso, esse dinheiro é utilizado para beneficiar 28 usinas e destilarias nos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, e para promover ainda mais o avança do monocultivo de cana-de-açúcar, causando a elevação dos preços dos alimentos e a concentração da propriedade da terra por empresas estrangeiras.

A diminuição sucessiva da área plantada de alimento terá, em breve, conseqüências gravíssimas para toda população mundial. Hoje a população urbana já está sofrendo em função do aumento dos preços dos alimentos, conseqüência principalmente da utilização da soja brasileira para produção de biodiesel e do milho dos Estados Unidos para produção de etanol.

Nós, da Via Campesina, somos aqueles que foram despojados de toda e qualquer sorte e possibilidade em conseqüência da ação devastadora da monocultura da cana-de-açúcar, concentradora de terra e riqueza. Somos pobres, fomos durante toda história escravos do setor
sulcroalcooleiro, que sempre dominou a Zona da Mata Pernambucana, que chega até a ser chamada por alguns pesquisadores de "região canavieira". Somos filhos desta terra e ao longo da história fomos onstruindo a consciência de que nesta região podemos construir um outro modelo de agrícola e de desenvolvimento econômico.

Queremos fazer entender que a responsabilidade da universidade publica é para com o povo e não para com o agronegócio e o capital financeiro,que querem transformar os alimentos, as sementes e todos os recursos naturais em mercadoria para atender os interesses, o lucro e a ganância das grandes empresas transnacionais. Os recursos financeiros e humanos de uma instituição pública como a Universidade Federal Rural de Pernambuco devem ser usados para ajudar a resolver os problemas do povo brasileiro. E a fome é um deles. Portanto que pesquisem desenvolvimento de milho, de feijão, de macaxeira. Se os usineiros querem fazer pesquisa para aumentar seus lucros, que façam em suas terras e contratem seus técnicos.

Certamente quando a universidade pública entender seu papel social ela poderá contribuir muito utilizando o conhecimento acumulado e os técnicos servidores públicos que se apropriaram destes conhecimentos, com recursos públicos do povo brasileiro, para a melhoria das condições de vida da maioria e a produção de alimentos audáveis e baratos. Esse é certamente o anseio da maioria do povo brasileiro e de inúmeros professores e alunos da UFRPE e da UFPE que nos parabenizaram pela ação e continuam nos prestando sua solidariedade.

*Via Campesina - Pernambuco*

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